Author

Panela Quente

Browsing

Festas Juninas: Tradição e Cultura Celebradas em Todo o Brasil

Com a chegada de junho, o Brasil se enche de cores, sabores e tradições com as festas juninas, uma das celebrações mais vibrantes do calendário. Pipocas estourando, doces de milho e amendoim, canjicas e bolos de fubá compõem a rica culinária típica dessa época, homenageando a diversidade gastronômica brasileira.

Mas os arraiás não se resumem apenas às delícias culinárias. As bandeirinhas coloridas, as barracas com brincadeiras e jogos, e as danças tradicionais, como quadrilhas e forrós, criam uma atmosfera festiva que atrai milhares de pessoas ao redor das fogueiras em todo o país, proporcionando momentos de pura alegria e descontração.

Segundo uma pesquisa da Booking.com, um em cada dez viajantes brasileiros deseja viajar este ano para um evento cultural. Além disso, 24% dos viajantes brasileiros planejam uma viagem para conhecer uma atração cultural. Seja para saborear pratos típicos, dançar ao som de músicas folclóricas ou simplesmente se envolver no clima festivo, viajar durante as festas juninas garante momentos inesquecíveis e emocionantes.

Cinco Destinos Imperdíveis para as Festas Juninas no Brasil

Campina Grande, Paraíba

Conhecida como a “Capital do Forró”, Campina Grande sedia o maior São João do Mundo. Durante junho, a cidade se transforma em um verdadeiro paraíso junino, com shows de grandes artistas, apresentações de quadrilhas e concursos de comidas típicas. O evento atrai mais de 2 milhões de turistas.

Caruaru, Pernambuco

Também intitulada “Capital do Forró”, Caruaru é um destino essencial para quem deseja vivenciar as festas juninas. O São João de Caruaru apresenta quadrilhas, shows de forró, feiras de artesanato e comidas típicas, com a festa de 2024 sendo dedicada ao tema “A evolução do Barro”.

São Luís, Maranhão

A festa junina de São Luís é uma das mais autênticas do Brasil, destacando-se pelo Bumba Meu Boi, cacuriá, quadrilhas e grupos de tambor de crioula. É uma verdadeira manifestação da cultura maranhense, celebrada com grande entusiasmo.

Mossoró, Rio Grande do Norte

O Mossoró Cidade Junina é um dos eventos mais tradicionais do Rio Grande do Norte. Com uma programação diversificada, que inclui o famoso “Pingo da Mei Dia”, a festa promove um grande arrastão junino pelas ruas da cidade, abrindo os festejos juninos de Mossoró.

Aracaju, Sergipe

O Forró Caju, principal arraiá da capital sergipana, oferece uma programação cultural diversificada, com quadrilhas, shows de artistas locais e nacionais, e uma vasta variedade de comidas típicas. O evento, realizado entre 23 e 29 de junho, atrai cerca de 150 mil pessoas por dia na Praça de Eventos do Mercado.

As festas juninas são uma celebração da cultura brasileira, proporcionando experiências inesquecíveis a todos que participam. Se você planeja uma viagem cultural, essas festividades são uma excelente oportunidade para mergulhar nas tradições e na alegria do povo brasileiro.

Patrick Martin, o chef francês responsável por trazer a Le Cordon Bleu para o Brasil, defende uma culinária acessível e o papel da escola na formação do paladar.

O cardápio do último jantar do governo de Dom Pedro II, descrito no livro “O Último Baile do Império” por Claudio da Costa Braga, incluía 18 pavões, 80 perus, 300 galinhas, 350 frangos, 30 fiambres, 1.000 peças de caça e 50 peixes, tudo regado a muito champanhe e sofisticação. Esse banquete, inspirado em grandes monarquias europeias, refletia uma gastronomia reservada à realeza.

Dois séculos depois, chefs renomados, que antes serviam a realeza, abriram restaurantes para oferecer alta gastronomia às elites. Patrick Martin acredita que essa exclusividade não é necessária. “Estou empenhado em tornar a culinária mais acessível e desmistificar a ideia de que ela é inacessível”, afirma. Martin, com vasta experiência em restaurantes estrelados em Paris, é o diretor técnico da Le Cordon Bleu no Brasil.

A Le Cordon Bleu, presente em 20 países, promove a cultura culinária em diversos níveis. Este ano, a escola expandiu além de São Paulo e Rio de Janeiro, onde está desde 2018, para outras capitais. Em São Paulo, foi inaugurado o Culinary Village, um espaço que promove conexões entre parceiros, marcas e empresas. O hub conta com cozinha de apresentação, sala de jantar, coworking, um café e o Memorial e Biblioteca Nina Horta, tudo para tornar a gastronomia mais acessível.

Martin destaca a parceria com a Ânima Educação como fundamental para a implementação da Le Cordon Bleu no Brasil. A escola começou em São Paulo e Rio de Janeiro e, este ano, expandirá para Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, com planos de chegar a Natal, Salvador, Brasília e Santa Catarina em 18 meses.

Os programas desenvolvidos no Brasil incluem o Cordon Tech, com aprendizado técnico intensivo em culinária francesa e internacional, e o Diploma de Cozinha Brasileira, que valoriza a culinária local. Outros programas focam na harmonização de vinhos e culinária à base de plantas.

A Le Cordon Bleu busca desmistificar a alta gastronomia, tornando-a acessível ao público brasileiro. O Culinary Village exemplifica essa abordagem, oferecendo uma experiência completa em um ambiente acolhedor. A escola também oferece programas para diferentes níveis de habilidade, desde iniciantes até profissionais experientes.

Patrick Martin ressalta que a culinária francesa não tem a mesma representatividade de décadas atrás no Brasil, que hoje é mais diversificada. A Le Cordon Bleu adapta suas bases técnicas francesas às influências locais, consolidando sua presença no país com programas educacionais e parcerias estratégicas.

Comparando a gestão de restaurantes estrelados com a criação de uma escola de gastronomia, Martin considera ambos os desafios igualmente complexos. Ele enfatiza a importância da formação formal para alcançar a excelência na culinária.

Para se tornar um chef, Martin destaca a necessidade de curiosidade, paixão, autocrítica e humildade. A evolução do papel do chef inclui não apenas habilidades culinárias, mas também liderança e compreensão cultural. O chef moderno é versátil e desempenha múltiplos papéis além de cozinhar.

Casual EXAME conversou com sommeliers e chefs que indicaram rótulos de sidras, vinhos brancos e espumantes para se refrescar durante a estação

As altas temperaturas do verão estão implacáveis desde a entrada da estação, no fim de dezembro. E ainda nos restam muitos dias de calor até os ventos frios do inverno voltarem a soprar. Até lá, melhor deixar os taninos de lado para se refrescar com bebidas mais leves, jovens, com teor alcoólico mais baixo e acidez equilibrada, perfeitos para serem tomados na praia, à beira da piscina ou como acompanhamento para pratos delicados à base de peixes ou verduras.

Para ajudar na escolha, Casual EXAME conversou com sommeliers e chefs que indicaram rótulos de sidras, vinhos brancos e espumantes para se refrescar durante a estação.

Produzido com uvas blaufrankish por Gernot e Heike Heinrich, da aclamada vinícola austríaca Heinrich, localizada na região de Burgenland este rosé puro e natural é atualmente um dos queridinho do sommelier Guilherme Giraldi, do restaurante Cais. Com boa profundidade no nariz e nota de pitanga, entrega na boca um delicioso toque cítrico e leve amargor que remete à toranja. “Para fechar com chave de ouro, ainda tem alta acidez e ótima mineralidade. É um vinho fresco, para matar a sede, com complexidade na medida”, afirma Guilherme, que o vende no restaurante em taça (até acabar o estoque). Perfeito para acompanhar o crudo de atum, lardo e tomate do banquete da casa.

Serviço: R. Fidalga, 314 – Vila Madalena. Telefone: 11 3819-6282. Funcionamento: Almoço: Sexta das 12h às 15h, Sábado e domingo das 12h às 16h. Jantar: Quarta a sábado das 19h às 23h.

Poiré Granit 2021

A dica do sommelier Bautista Casafús, do restaurante Arturito, vem diretamente do noroeste da França, onde é produzida esta sidra com assinatura do ex-sommelier do restaurante L’Arpege), Eric Bordelet. Feita com peras de pomares antigos, cultivados bio dinamicamente na Normandia, ela tem apenas 3% de álcool, o que permite começar a ser consumida às 11h da manhã. “O nariz não avisa o que está por vir na boca. Ela é sequíssima, elegante e mineral, com uma complexidade de um grande vinho com elegância, uma perlagem delicada e um final longo e salivante”, diz Bautista que aposta nas bolhas para “transportar as pessoas imediatamente para os melhores lugares, como o verão brasileiro”. Perfeita para
servir com aperitivos de frutos do mar, a garrafa importada pela De La Croix custa R$ 228.

Serviço: Rua Artur de Azevedo, 542, Pinheiros. Telefone: (11) 3063-4951 / Whatsapp: (11) 95699-9330
Funcionamento: Almoço: Terça a sexta, das 12h às 15h. Sábado e domingo, das 12h às 16h. Jantar: Terça a sábado, das 19h às 23h

Stoneburn Sauvignon Blanc e Rocamadre Criolla

Ousadas, as sommelières Daniela Bravin e Cássia Campos, da Sede261 – que neste ano seguem firmes com seu clube de vinhos, no qual entregam mensalmente aos assinantes seis rótulos que fogem do óbvio, garimpados a dedo – indicaram não um, mas dois vinhos perfeitos para tomar despretensiosamente na praia ou à beira da piscina: um branco e um tinto.

O primeiro, branco, produzido na Nova Zelândia com a uva sauvignon blanc tem o frescor como palavra chave, com notas cítricas de limão e maçã verde, e notas herbáceas de grama recém-cortada e flores de laranjeira. “É um vinho bem equilibrado, com acidez vibrante”, define Daniela. Ideal para acompanhar ceviches de peixe branco, saladas e queijos leves.

Já o tinto argentino da Rocamadre, produzido com a casta Criolla, “é a cara do verão”. Com notas de frutas vermelhas frescas e toque terroso, traz uma sensação refrescante à boca. De corpo médio, taninos macios e final longo. “Para a melhor experiência, desfrute gelado”, indica Cássia. A sugestão de harmonização é com tartare de atum, sanduíche de pastrami ou cogumelos salteados.

Serviço: R. Benjamim Egas, 261, Pinheiros. Funcionamento: Quarta a sexta das 18h às 22h. Sábado das 15h às 22h. Domingo das 12h às 17h

Lou Bellule Beaujolais Villages

Pedro Grando, do restaurante Votre, chega para provar que é possível ir de vinho tinto no verão, desde que ele tenha a leveza e delicadeza deste Beaujolais feito 100% com a uva gamay e leveduras naturais. “Esse é um dos meus vinhos preferidos da carta do Votre. Ele é limpo, vivo, macio, com uma mescla interessante do caráter frutado e de mineralidade”, descreve. Com aromas frutados e notas florais no paladar, é um vinho perfeito para acompanhar uma refeição. Curiosidade: o nome do rótulo é uma homenagem à filha dos produtores.

Serviço: R. Natingui, 1548, Vila Madalena, São Paulo. Funcionamento: Terça a quinta: 12h-15h / 19h-23h. Sexta: 12h-15h / 19h-23h30. Sábado: 12h30-23h30. Domingo: 12h30-17h

Les Vignes de Montgueu

O produtor francês Emmanuel Lassaigne segue com maestria os passos do pai sendo uma das grandes referências da região com champagnes acima da média, cultivados em um dos mais prestigiados terroirs da França. “É um vibrante, com perlage delicada, agradável acidez e mineralidade deslumbrante”, afirma Diego Cartier, sócio da Vivente Vinhos. Destaque para as notas de frutas cítricas suculentas, que o tornam perfeito para acompanhar ostras, frutos do mar e mariscos. Importado pela Uva Vinhos, por R$ 655.

Branca 2022 e Trebbiano On The Rock 2023

Entusiasta dos vinhos brasileiros, a sommelier Gabrielli Fleming, sócia do restaurante Cepa, elegeu dois representantes do Rio Grande do Sul para refrescar os momentos nesse verão. O primeiro, Branca, produzido com o mínimo de intervenção pela microvinícola gaúcha Outrovinho, é um vinho branco fresco e suculento. Feito com a casta traminer, tem perfil aromático mais exótico que o habitual, com notas de lichia, maçã verde e melão. Harmoniza perfeitamente com comida japonesa fria.

Já o Trebbiano on The Rock, produzido por Luís Henrique e Talise Zanini, é praticamente um clássico da vinícola Era dos Ventos, pioneira na elaboração de vinhos laranja no Brasil. A safra de 2023, entretanto, é especial. “É a mais cítrica e fresca que provei deste rótulo até hoje. Um laranja para beber de balde”, garante Gabi.

Serviço: R. Antônio Camardo, 895, Vila Gomes Cardim. Funcionamento: Quarta a sexta das 12h às 15h. Sábado e domingo 12h às 16h. Jantar aos sábados: 19:30h – 23h. Tel: 11 2096-0687

O azeite é um produto versátil e pode ser utilizado tanto em pratos salgados quanto em sobremesas

Azeite e sal são dois ingredientes básicos na cozinha. Para além dos pratos salgados, os temperos estão sendo incluídos em receitas doces, pelo menos em vídeos nas redes sociais. Após a cantora Dua Lipa contar que sua sobremesa preferida é sorvete de baunilha acompanhado de sal e azeite, diversos vídeos testando a receita foram divulgados.

A combinação parece ser inusitada, mas surpreende no sabor. O azeite é um produto versátil e pode ser utilizado tanto em pratos salgados quanto em sobremesas, mesmo que seu uso não seja tão comum em preparos doces.

Além do sorvete, o azeite também pode ser consumido com bolos e chocolate, por exemplo. Em visitação ao olival da marca Oliq, na cidade de São Bento do Sapucaí (SP), a degustação dos azeites é feita com harmonização de pães, queijos, folhas e bolos.

Já para a receita do sorvete, é recomendado o uso de flor de sal e azeite condimentado, como limão siciliano. Segundo a marca gaúcha Prosperato, este sabor adiciona refrescância à sobremesa.

O diretor e mestre de lagar da Prosperato, Rafael Marchetti, explica porque a escolha do sorvete sabor creme. “A ideia é ter como base um sorvete que seja mais neutro, pois isso ajuda a destacar o sabor do azeite, que neste caso é mais acentuado por ser o de limão”, ressalta. Marchetti afirma ainda que se a pessoa for muito fã de limão siciliano, pode optar por um sorvete com esse mesmo sabor.

Além de surpreender no paladar e ser uma ótima opção para se refrescar no verão, a sobremesa também se destaca pelas diferentes texturas, ao combinar o azeite com a cremosidade do sorvete e a crocância da flor de sal.

O chef André Mifano prefere trocar o termo “comida típica italiana” por “comida ítalo-brasileira”

Espírito Santo, 21 de fevereiro de 1874. Há exatos 150 anos, os primeiros dos 388 passageiros do navio “La Sofia” começavam a desembarcar no porto de Vitória. A maioria dos imigrantes eram camponeses do norte da Itália que vieram em busca de trabalho, principalmente com destino a São Paulo.

Hoje o país tem cerca de 35 milhões de ítalo-brasileiros, formando a maior comunidade de descendentes de italianos em todo o mundo. E por aqui eles têm um dia para chamar de seu: o Dia Nacional do Imigrante Italiano, instituído em 2008 e celebrado nesta quarta-feira, 21.

“Essa imigração deixou uma marca forte na moda, nos costumes e na gastronomia”, diz o chef Salvatore Loi, que atualmente, comanda os restaurantes paulistanos Modern Mamma Osteria – Moma e Ella | Fitz, além do DOC Cucina, em Brasília. “O calor humano e a alegria são também um ponto de semelhança entre o Brasil e a Itália.”

Nascido na pequena Tempio Pausania, na Sardenha, ele chegou ao Brasil 25 anos atrás para assumir o cargo de chef executivo das operações do Grupo Fasano, onde atuou por mais de uma década. Salvatore diz que, para os italianos, receber amigos em casa e promover encontros é algo muito comum e valorizado, tal como aqui. “Então, sempre que sou convidado para um almoço ou reunião com vinho e boas risadas, me sinto mais próximo da minha Itália.”

Para André Mifano, chef e proprietário do restaurante Donna, nos Jardins, o brasileiro herdou do italiano sua “forma jovial e alegre”. E, claro, a fartura à mesa. Porém, ele prefere trocar o termo “comida típica italiana” por “comida ítalo-brasileira”. “Os pratos passaram por muitas transformações ao longo do tempo”.

Ele cita como exemplo o polpetone do Jardim de Napoli, hoje onipresente nos cardápios da cidade. “Não existe na Itália um polpetone com recheio de queijo e molho de tomate, pois ele é derivado de uma receita clássica”.

Outros exemplos são o filé à parmegiana, reinterpretação de um prato feito originalmente com beringela, e o capeletti à romanesca, criado por Giovanni Bruno na São Paulo dos anos 1950.

“O que comemos hoje é fruto de adaptações que muitos imigrantes tiveram que fazer quando chegaram por aqui”, diz Fellipe Zanuto, sócio da A Pizza da Mooca e do restaurande Hospedaria. A casa inaugurada no bairro da Mooca em 2016 propõe uma comida inspirada no dia a dia dos primeiros italianos que chegaram ao Brasil.

A Mooca, aliás, é o bairro paulistano que mais guarda memórias desse movimento migratório. “Não é um bairro que se parece com a Itália, mas que tem aquela alma italiana”, define Mifano.

Formado majoritariamente por operários que vinham do país europeu para trabalhar nas fábricas da região, esse pedaço da cidade guarda até hoje entre seus moradores o jeito de falar cantado e “italianado”.

Outros bairros próximos à região central ajudaram a consolidar a cultura do país mediterrâneo por aqui, como o Bixiga. “A Rua 13 de Maio, com suas cantinas e padarias, é bem representativa”, acrescenta Ney Alves, titular da cozinha do restaurante Piccini, nos Jardins. “Tem também o próprio Centro, que exibe muito da influência italiana na arquitetura, em construções como o Theatro Municipal e os edifícios Matarazzo e Martinelli. E é por lá que está o restaurante mais longevo da capital, o Carlino Ristorante, que desde 1881 serve raviólis, rigattones e filettos”.

Longevidade é a marca de outros restaurantes italianos da cidade, como a cantina C…Que Sabe!, aberta em 1931, e a Castelões, que completa um século de atividade em 2024. E endereços emblemáticos, como o sofisticado Fasano, inaugurado em 1947 na Rua Vieira de Carvalho, com história remonta ao início do século 20, quando Vittorio Fasano, recém-chegado de Milão, inaugurou a Brasserie Paulista, também no Centro. Sem falar nos mais atuais, como Nonna Rosa, Nino Cucina, Due Cuochi, Bráz Trattoria.

“A importação de produtos italianos como farinhas, massas secas, azeites, queijos e vários outros itens fez a gastronomia paulistana crescer em qualidade”, afirma Salvatore Loi. Não por acaso, há quem diga que hoje chega-se a comer tão bem aqui quanto na Itália.

Segundo uma pesquisa recente intitulada Hábitos Alimentares dos Brasileiros, sobre as preferências e tendências de consumo, 41% das pessoas entrevistadas disseram ter preferência por restaurantes italianos ao saírem para comer. “A Itália e a sua rica gastronomia regional continua forte e segue enriquecendo ainda mais esse paralelo entre os dois países”, conclui Salvatore.

Pizza marguerita, torta de limão, além de queijos, iogurte e sorvete podem ser encontrados na carta de bares. Porém, não se tratam de pratos, mas de drinques.

Pizza marguerita, torta de limão, além de queijos, iogurte e sorvete podem ser encontrados na carta de bares. Porém, não se tratam de pratos, mas de drinques.

Além de servir pizzas, o bar e restaurante Picco, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, conta com coquetéis como o Marguerita (R$ 38), que leva tequila, tomate, limão siciliano, agave, água de muçarela de búfala, majericão e orégano.

Há também sobremesas líquidas como o Torta de Climão (R$ 38), que leva blend de rum havana club, manteiga noisette, limão siciliano, mascarpone e baunilha e o Guga in Manhattan (R$ 45), com bourbon uísque, óleo de coco, vermute tinto, café, amaro, laranja e iogurte.

Já eleito o 15º melhor bar do mundo, segundo o ranking 50 Best de 2019, o bar Guilhotina também apresenta drinques que remetem a pratos como o Dirty Harry (R$ 47) feito com gim, vermute bianco, redução de balsâmico e picles. Na carta de martinis, uma criação é o apimentado Chilli Martini (R$ 53), feito com gim, noilly prat, luxardo bitter e xarope de pimenta.

“Brinco que é quase um prato de chilli, não é apenas um suave, a picância é persistente em exatamente como é um prato apimentado. No drinque, geralmente, o sabor não ‘estica’ como em um prato, mas nesses drinques-pratos eles têm de ter essa característica, têm de ter essa persistência”, diz D’Agostino.

A tendência de utilizar elementos e técnicas culinárias na coquetelaria não é recente, no entanto.

“Esse movimento partiu, na verdade, da cozinha. O bartender americano Dale DeGroff e, um pouco mais tarde, o também americano Sasha Petraske se inspiraram na Nouvelle Cuisine, movimento culinário do final da década de 1970. Antes, o que reinava na culinária americana eram, basicamente, pratos enormes, com empratamento clássico. A Nouvelle Cuisine foi buscar inspiração na culinária japonesa, e olhou deu foco nos ingredientes e novas técnicas como algo especial. Isso foi final da década de 1970. E na década de 1990, a coquetelaria seguiu a tendência — resgatando receitas clássicas, de séculos atrás, e introduzindo técnicas de produção inéditas”, explica Mauricio Porto, sócio do Caledonia e autor do blog O Cão Engarrafado.

“Quando começamos a usar mais técnicas da gastronomia para desenvolver drinques, como os purês e o fat wash, por exemplo, as bebidas passaram a ter mais proximidade com pratos salgados”, completa Alê D’Agostino, bartender do Guilhotina, “enquanto os sabores doces já estavam mais presentes na coquetelaria, como o café”.

No Caledonia, casa dedicada a uísques no bairro de Pinheiros, há um bom exemplo de coquetel “culinário”. O King James (R$ 43), assinado pelo premiado mixologista Rodolfo Bob e preparado pelo Head Bartender Alison Oliveira, é feito com vermute de jerez, vinho madeira, queijo grana padano, manteiga de garrafa com amêndoas, cocoa bitters e irish uísque.

Servido com um pequeno pedaço de jamon serrano, o drinque possui notas doces e salgadas, assim como o queijo italiano. “É o segundo drinque que mais pedido da casa”, diz Porto.

Segundo o relatório das 100 tendências para 2024 da agência VML, pratos clássicos aparecerão em versões líquidas no menu. O badalado restaurante nova yorkino Double Chicken Please, conta com drinques baseados na salada Waldorf e em rabanadas.

“As criações são baseadas na abordagem de hacking design para desmontar pratos culinários e reconstruir os sabores em formas de coquetéis exclusivas”, diz Tako Chang, gerente de marca e comunicações da Double Chicken Please, à VML Intelligence.

Inaugurado em novembro de 2020, o bar foi eleito o melhor na lista dos 50 Melhores Bares de 2023 da América do Norte e número 2 na lista dos 50 Melhores Bares de 2023 do Mundo, ambos do ranking 50 Best.

Mas, se os drinques remetem à culinária, com que pratos eles harmonizam? Para Porto, a recomendação de harmonização é por semelhança. Se um drinque é gorduroso, a sugestão é seguir pelo mesmo caminho.

“O King James é um coquetel adocicado, mas com uma pegada umami, por conta da textura trazida pela manteiga de garrafa e infusão do queijo grana padano. Ele funciona bem com outros pratos umami, como nossa barriga de porco glaceada no missô com cogumelos. Vai superbem com o Cadiz, que é nosso sanduiche de presunto cru, brie e vinagre de jerez, ou com nossos burguers, especialmente o Stirling, com queijo”, diz Porto.

A recomendação do drinque Le Mépris, feito com uísque, fake lime juice, dry vermuth, mel trufado e fat wash de azeite trufado é harmonizar com uma simples batata frita ou arancini de linguiça.

“Os drinques evoluíram, e muito. Eles deixaram de ser apenas um complemento e ganharam o destaque. Não é raro as pessoas jantarem em casa e sair para finalizar a noite com um ou dois drinques em um bar”, diz Alê D’Agostino.

Frutos do mar, preparos no fogo e receitas descomplicadas. Chefs e restaurantes apostam nessa receita para os próximos meses

Pela primeira vez a premiação 50 Best Restaurants da América Latina foi realizada no Brasil. Anualmente, chefs renomados e especialistas se reúnem nesse evento para celebrar a excelência gastronômica e testemunhar o surgimento de novos conceitos, sabores e abordagens na cena culinária latino-americana. É nesse palco de prestígio que as correntes mais marcantes da cozinha regional se revelam, delineando o curso futuro da alta gastronomia na região. De lá saíram também as tendências que devem marcar este verão.

Para Janaína Torres, eleita Melhor Chef da América Latina e no comando da Casa do Porco, o mais bem colocado restaurante brasileiro no ranking, em quarto lugar, menus simplificados, com menos itens, devem ganhar espaço. Os chefs­ Tássia Magalhães, do Nelita, que ficou em 21o lugar entre os melhores restaurantes, e Thomas Troisgros, que recentemente abriu o Toto, no Rio de Janeiro, concordam e acrescentam que os ingredientes frescos sem intervenção, como ostras, vão aparecer cada vez mais nos cardápios.

Se frescor é uma das palavras do verão de 2024, Yasmin Yonashiro, no comando do Jojo Ramen, coloca os frutos do mar nessa categoria. Tanto para ela quanto para o chef Felipe Schaedler, do Banzeiro, a técnica da brasa vai marcar a estação mais quente do ano. “Frutos do mar, brasa e fogo são os elementos-base de partida deste verão”, diz Schaedler. Essa combinação, acompanhada de receitas simples, também é a aposta do chef Uilian Goya, no comando da casa asiática que leva seu sobrenome. Ariani Malouf, chef do mato-grossense ­Mahalo, já usa a técnica da brasa no restaurante, principalmente para legumes tostados. Seguindo esses conceitos de tendência, EXAME Casual lista três indicações para a estação.

A Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, você já conhece. Mas a sensação agora é a Campanha Gaúcha, com Indicação Geográfica e terroir perfeito

“Os vinhos são como a música: muitos cantam bem, mas os grandes cantores têm algo a mais.” Essa frase foi dita em entrevista à Casual EXAME por Pedro Parra, uma das maiores autoridades no mundo em terroir.

É o que acontece em localidades como Champagne, na França, ou Jerez, na Espanha, em que clima, solo e a mão do homem precisam estar afinados para a música soar excepcional.

No Brasil, a experiência mais conhecida é a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, com espumantes premiados. A região conquistou no ano passado a primeira Denominação de Origem, em Pinto Bandeira, para vinhos borbulhantes fora da Europa.

A Miolo investe na Campanha Gaúcha
O destaque do momento, no entanto, está a poucos quilômetros dali, na Campanha Gaúcha, na fronteira com o Uruguai e a Argentina. Com um solo mais arenoso e com boa drenagem, o local possui esse “algo a mais”.

Em 2020 passou a ter Indicação Geográfica, que atesta e garante ao consumidor um patamar mais elevado na qualidade dos vinhos. A Miolo, uma das maiores vinícolas do país, tem duas iniciativas por lá: a Almadén (com produção anual de 4 milhões de litros) e a Seival (com 1,3 milhão de litros).

Neste ano, o grupo teve dois destaques de lançamentos, um Malbec com paladar semelhante aos potentes argentinos, e um Trebbiano, um vinho branco leve que lembra os Vinhos Verdes de Portugal, propício para o verão.

Os melhores espumantes brasileiros
Entre os melhores espumantes brasileiros, estão rótulos da Campanha Gaúcha. O 13º Concurso do Espumante Brasileiro, realizado no fim de setembro de 2023, elegeu os melhores rótulos do país.  De um total de 172 premiações, 13 foram de Medalhas Grande Ouro, 153 de Ouro e seis na categoria Ouro Destaque.

 

Em 2023, o país marcou presença em várias listas globais, destacando-se tanto no topo quanto entre os melhores

É um fato que o Brasil tem uma das melhores gastronomias do mundo. Além disso, conta com uma pluralidade de sabores e ingredientes tão diversos quanto o tamanho do país. Em 2023, o país apareceu em diversas listas mundiais, figurando tanto no topo quanto entre os melhores. Desde restaurantes, passando por vinhos e até pizzas e sorvetes. Vamos relembrar os estabelecimentos e produtos citados nos rankings globais.

Entre os 21 países da América Latina no ranking 50 Best, o Brasil foi representado por oito restaurantes. O melhor colocado do Brasil na edição de 2023, que aconteceu pela primeira vez no país, foi A Casa do Porco, em São Paulo. O restaurante comandado pelos chefs Janaína Torres e Jefferson Rueda também foi eleito o melhor do Brasil segundo o ranking dos 100 melhores restaurantes do Brasil EXAME 2023.

Melhor pizza
São Paulo é a segunda cidade no mundo onde mais se consome pizza, atrás apenas de Nova York. De acordo com a associação de Pizzarias Unidas do Brasil, o estado paulista consome aproximadamente 500 mil pizzas por dia, a metade do que é produzido no país inteiro. As redondas brasileiras também têm seu lugar de destaque nos rankings mundiais.

No fim de novembro, a Bráz Pizzaria foi reconhecida como a quarta melhor do mundo pelo ranking 50 Top World Artisan Pizza Chains 2023, primeiro e mais importante guia italiano do setor. A premiação, que acontece anualmente em Nápoles, elege as melhores redes de pizzarias artesanais do mundo.

Melhores vinhos
Em praticamente todos os concursos internacionais de vinhos, há brasileiros na lista dos melhores. No concurso Mondial des Vins Extrêmes (“Mundial de vinhos extremos”, numa tradução livre) edição 2023 não foi diferente. O país teve 13 rótulos premiados, entre brancos, tintos e espumantes. O concurso é um dos mais inusitados do setor porque avalia aqueles vinhos feitos em regiões consideradas extremas e que correm o risco de desaparecer.

No total, o concurso concedeu 45 Grandes Medalhas de Ouro e 238 Medalhas de Ouro, além de outros 19 prêmios especiais concedidos a rótulos que tiveram algum destaque especial.

Melhores sorvetes

Duas sorveterias brasileiras apareceram entre as mais icônicas do mundo, segundo o guia gastronômico TasteAtlas, divulgado em julho. A Cairu, de Belém, no Pará, e a Sorveteria da Ribeira, de Salvador, na Bahia, aparecem na lista ao lado de outros estabelecimentos italianos, alemães, argentinos, e franceses. A lista não é um ranking – sem uma escala de qual é o melhor – e é feita com dois tipos de votos: popular e de críticos especializados. Mais de 50 mil pessoas usam a plataforma.

 

Os cozidos têm uma longa história na culinária, remontando aos tempos da Roma Antiga, no início da era Cristã. Por exemplo, no trabalho de Pedânio Dioscórides, um escritor greco-romano conhecido como o Pai da Farmacologia, que data de 70 d.C., já encontramos menção e receita de um cozido de cereais, que era oferecido a convalescentes naquela época. Com o passar do tempo, à medida que a sociedade evoluía e as nações se formavam, os cozidos se estabeleceram como pratos ricos em nutrientes e economicamente vantajosos, muitas vezes preparados com ingredientes simples e sobras de outras receitas mais sofisticadas.

Na culinária moderna, o cozido adquiriu um refinamento merecido e passou a ser apreciado em mesas requintadas, onde a escolha do vinho que o acompanha é de grande importância para os amantes da gastronomia. A leveza ou a estrutura de um vinho, sua acidez e sua compatibilidade com o prato são fatores cruciais ao selecionar a bebida que acompanhará os diversos tipos de cozidos.

Por exemplo, o Cozido à Portuguesa, um autêntico patrimônio gastronômico de Portugal, é servido em uma travessa generosa, exibindo uma variedade de carnes, embutidos (como chouriça de sangue, salpicão, presunto e toucinho), couve tronchuda e legumes, todos cozidos com feijão vermelho ou grão de bico, dependendo da região. Este prato de inverno harmoniza perfeitamente com um Dão Tinto, como o Dão Grão Vasco, ou um tinto da Bairrada, como o Aliança ou o Palácio do Buçaco.

Por outro lado, o Cozido Madrileño (ou Puchero de Madrid), o mais famoso da Espanha, tem origens humildes e judaicas. Sua base contemporânea consiste em carne (bovina, frango ou galinha, costelas de porco), vegetais (principalmente repolho), produtos derivados do porco (bacon, chorizo, morcilha) e grão de bico. Um vinho encorpado, como um tinto da Rioja (como Marques de Riscal, Marques de Cáceres ou Marques de Tomares), ou um tinto de Ribera del Duero (desde um Protos Crianza até um Veja-Sicília) é a escolha ideal para acompanhar este prato.

Nossa tradicional Feijoada, um tipo de cozido que utiliza carne de porco e feijão preto como base, combina bem com um espumante, como o Casa Valduga Premium Extra Brut ou o excepcional Salton Évidence Cuvée Sur Lie, ou até mesmo com um tinto leve, como o Família Bebber Guri Pinot Noir ou o Capoani Gamay, servidos refrescados.

Por fim, o Bollito Misto, uma especialidade do Piemonte, no norte da Itália, que foi introduzida no Brasil pelo famoso restaurante do Hotel Cá D’oro em São Paulo, inclui carne bovina, peito de frango, paleta de vitelo, Cotechino e Zampone (dois tipos de embutidos italianos). Este prato, servido com legumes, repolho e molhos à base de raiz-forte, ervas e a famosa mostarda de Cremona, é perfeito quando acompanhado de um Barolo (como Pira, Sandrone ou Marchesi di Barolo) ou um Barbera (como Cantine del Borgo Reale ou Dezzani Barbera D’Asti Superiore). Embora os cozidos sejam frequentemente associados ao inverno, eles podem enriquecer nossas mesas a qualquer momento, desde que acompanhados dos vinhos adequados. Saúde!